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A IGREJA E ISRAEL

2. A IGREJA E ISRAEL

No desígnio de Deus tem um papel fundamental e a Igreja não pode entender-se sem esta sua santa raiz (Rom 11,16) que carrega a mesma Igreja (Rom 11,18). E para Paulo a mesma conversão dos pagãos é em vista de Israel (l1,24s) e a ruptura de Israel é para o bem dos pagãos Rom 11,11.14). E o fundamento disto está na fidelidade de Deus á sua aliança  (Rom 11,29). Temos aqui, portanto a continuidade entre Israel e Igreja, mas também a novidade do povo de Deus como Corpo de Cristo.
Mas então qual é o papel de cada um? Para isto os padres a Num 12,23: aos dois que carregavam  num pau o cacho de uva voltando da terra que tinham analisado. O pau representa a cruz e os dois carregadores Israel e a Igreja Quem precede é Israel que se abre ao transcendente e é figura de Israel povo da esperança e espera; quem vem atrás vê quem está na frente é a figura da Igreja que tem em Cristo crucificado a chave de leitura também do AT e da promessa feita aos Pais. Assim temos a continuidade (sustenta o mesmo pau, caminham em direção da mesma meta) e a diferença. Avanças juntos e distintos carregando a cruz.

a.   A continuidade entre Israel e a Igreja
A memória faz parte da identidade: é a raiz que dá a vida e forma à planta. Por isto não se pode separar a Igreja de Israel, como nos ensina o Vat II (Nostra Aetate, 4).
- A continuidade se manifesta antes de tudo na linguagem: Igreja e povo de Deus têm raízes no AT.
Israel é chamado de edah (é a comunidade reunida e presente na Sacerdotal e na literatura pós-exílica) traduzido com sunagoge e qahal (é o aspecto mais ativo de convocação e presente na corrente deuteronômica) traduzido com ekklesia e que entrará no NT para indicar a nova comunidade, como Igreja de Deus (1 Cor 1,2: 10,32; 11,16.22; 15,9;2Corl,I;Gal 1,13; 1 Tes2,14; ],4; 1 Tm3,5-15;At 20,28) (sinagoga já indicava a comunidade e o lugar dos judeus).
Os termos AM o gojim foram traduzidos com laos (para usar o povo de Deus: 1 Pd 2,10; Rom 9,25s; 2 Cor 6,16) e etné (para os gentios). Assim a Igreja de Deus é a "qehal Jhwh", aquela comunidade do deserto à qual faz muitas vezes apelo o evangelho de João. .
- A Igreja se concebe como o povo em êxodo, é o Israel de Deus (Gal 6,16) reunido nas doze tribos (At 26,6s). A mesma escolha dos doze mostra isto (Mc 3 13-19) e como esta comunidade vive a esperança escatológica (Ap 21,12-14) Jerusalém continua sendo a cidade escatológica (Ap 21,2; Gal 4,26s). A mesma palavra Reino de Deus está enraizado no AT e como Israel não se identifica com a realeza do Eterno assim também a Igreja (baste ver as parábolas do reino em Mt 13)
- Mas o tema Aliança é fundamental: ambos são povo De Deus. Israel é sua propriedade, seu aliado e santuário. Por isto é a consciência da salvação que dá a Israel a consciência de ser o povo de Deus e por isto se entende as muitas figuras para expressar esta relação Israel/Deus: vinha, rebanho, servo, , filho, esposa. Assim também a Igreja não terá medo de assumir estas mesma categoria. A Igreja é o rebanho de Deus (Jo 10,11; 1 Pd 5,4), é o campo de Deus (1 Cor 3,9), vinha escolhida (Mt 21,33-43) Cristo é a verdadeira videira que dá vida aos ramos que por meio da Igreja permanecemos nele e sem ele nada podemos fazer (Ia 15,1-5), é edifício (1 Cor 3,9), casa de Deus ( 1 Tm 3,13) morada de Deus e os homens (Ap 21,3) Templo (1 Pd 2,5), é a Jerusalém e mãe nossa (Gal 4,26) esposa (Ap 19,7; 21,2.9;22,17; Ef 5,25s.29).
- Como Israel reconhece a sua missão no ser o povo entre os povos, sinal e instrumento da salvação, assim a Igreja se sentirá chamada a levar a salvação até os confins da terra (Mc 6, 15s).

Mas então temos uma única aliança da qual nasce o Único povo de Deus? Esta continuidade indicaria uma resposta positiva vista a fidelidade de Deus Assim o evento Cristo não será uma ruptura, mas um, aprofundamento, uma dilatação em força da qual o encontro com o Deus de Abraão, Isaac e Jacó é possível agora a todos os povos. O cisma entre Israel e a Igreja não é vontade de Deus,  mas ambos os povos devem entrar em comunhão em vista do Único projeto de Deus.
Mas embora sugestiva esta solução não evita dois perigos: a tese da substituição pela qual a Igreja realiza plenamente o que é implícito em Israel; reduzir a novidade cristã a uma dimensão puramente quantitativa dizendo que o novo de Jesus seria aquele de ter feito entrar também os pagãos neste plano.
Assim esta teoria não consegue expressar melhor a novidade da Igreja.

b.   A novidade da Igreja frente a Israel
Se para Israel o já da fé da Aliança feita entre Deus e os Pais e o ainda não da esperança é o cumprimento escatológico das promessas do Eterno no shalom universal para a Igreja o “já” é o advento do Filho de Deus na carne e o realizar-se de seu mistério pascal que se encontra pleno e definitivo cumprimento no momento em que Cristo recapitulará todas as coisas em si mesmo e entregará ao Pai (l Cor 15). Para isto não tende ainda o peregrinat5 do mundo Assim em Cristo, a Igreja sabe de continuar em si a esperança de Israel porque espera a realização das promessas messiânicas e ao mesmo tempo se distingue porque reconhece que o Último tempo é já iniciado com Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo.
Assim a Igreja se reconhece o Israel de Deus (Gal 6,16) opondo-se ao Israel da Carne ((1 Cor 1018) descendente de Abraão segundo as promessas (Gal 3,29; Rom 9,6-8) em Jesus Cristo, filho da promessa.

Neste contexto se entende o segredo messiânico em Marcos, visto que o Israel de carne não consegue reconhecê-lo. O tema central em Mateus é a formação de Israel espiritual. Por esta razão que os primeiros  cristão se definirão como os santos (At 9,13; 26,10; Rom 15,25s.31;-1 Cor 16,1; 2 Cor 8,4) como povo de Deus( e se citarão os trechos do AT: At 15,14; Rom 9,25s;2 Cor 6,16; Tt 2,14) nascido de uma Nova Aliança (1 Cor 11,25; Lc 22,20; 2 Cor 3,6- 10; Hb 8,10), povo Único constituído graças ao sacrifício de Cristo (Ef2,14) santificado pelo seu sangue (Hb 13,12; 1 Pd 2,9s). Assim na Igreja o conceito RESTO encontra a plena realização (Rom 9,27).

Esta novidade que levou a falar de duas alianças e que às vezes criou a contraposição entre os hebreus e cristãos vendo até na Igreja o Único, novo Israel de Deus e esvaziar a permanência de Israel como povo eleito. Se deve precisar que as duas alianças são e restam no interior de uma única economia divina por isto que hebraísmo e cristianismo são e ficam instituições abertas. Sim também o hebraísmo é aberto visto que temos toda uma teologia que tende a isto e que se refaz a Gen 12,1-3; Is 7,9; 19,23-25;44,24-45.
Os dois exploradores da terra de Canaã deverão continuar a caminhar para a mesma meta, misteriosamente unidos pela CRUZ de Cristo e pelo mesmo Hosana não um contra outro, nem um ao lado do outro, mas um atrás do outro. Mas como pode acontecer isto?

c.    A complementaridade entre Igreja e Israel.
A Igreja crê que Cristo fez dos dois povos um só nele, a Igreja sabe com Paulo (Rom 9,4-5) que a Israel pertencem a lei, culto... E o mesmo Cristo segundo a carne (filho de Maria), de Israel são os apóstolos fundamento da Igreja (Nostra aetate 4). O esquecimento destes e outros elementos terminou em holocausto a vida deste povo
Mas como relacionar Israel e Igreja?
- modelo dualista: Marcião fundando-se no exemplo do vinho novo e velho (Lc 5,36-39) ele opõe a divindade mesquinha do At e a divindade do NT revelada em Jesus Cristo que nos liberta do domínio da Lei e da implacável justiça divina para oferecer a boa nova da misericórdia e do perdão. Para demonstrar isto ele cita somente os textos que lhe interessam. Embora condenado, este pensamento teve muita inf1uência na Igreja. É de inspiração gnóstica visto que a revelação é submetida ao julgamento mais ou menos arbitrário de um critério fixado racionalmente, mas vai contra o desígnio unitário de Deus e também neste caso a Igreja perderia suas raízes e nasceria do nada.

- Modelo alegórico grego: se opera uma espiritualização do AT explicando-o à luz do NT. Famosa para isto é a escola alexandrina (Clemente e Orígenes): a letra apela a outro de si, ao sentido espiritual. Já Paulo usou este método em Gal 4,24, por exemplo, falando dos dois filhos de Abraão e será o fundamento teológico da escola alexandrina de usar este método exegético. E visto que Paulo usa o termo num contexto de exegese tipológica, favorecerá o emprego da "tipologia" no sentido de acentuar o valor positivo e antecipante das realidades do antigo testamento. O resultado do processo alegórico e tipológico será o esvaziamento do AT, não exteriormente, mas a partir de dentro porque o esvaziará de suas intencionalidades próprias, pondo outra a ele estranha. Assim a mesma Igreja se sentirá enfraquecida em seus alicerces históricos porque condicionada pelo dualismo grego-helenista, a tendência alegórica, espiritualizando a letra terminará de des-historizar a mesma fé cristã. Se tudo é contido no A T perde de valor a experiência do Cristo.

- No modelo antológico é a integração prevalecer: o resto de Israel, o melhor de Israel, vem assumido e integrado na identidade da Igreja._Assim se instrumentalizará o AT, visto que se faz uma escolha selecionada dos fatos históricos presentes no AT. ;Não se nega Israel, mas uma sua parte. E tudo parte da fórmula "o NT era latente no AT e o AT é manifesto no NT". E isto foi favorecido também de como foi constituído o cânone da Igreja que se baseava na história, centro e fundamento da fé cristã. Entende-se que é fácil fazer uma interpretação apologética: se colhe no AT tudo aquilo que se fala Jesus Cristo. Mas se sabe quando alguém quer provar demais, prova de menos e não dá suficiente espaço à novidade do mesmo Jesus Cristo, tornando até desnecessário o mesmo NT.

- Daí o desejo de salvaguardar na relação entre Igreja e Israel o valor da Aliança em si mesma e o permanente significado religioso de Israel; é o modelo da “encarnação” e da complementaridade. O AT tem um valor estrutural e é feito próprio pelo mesmo hebreu Jesus. “A visão da realidade” característica da raiz santa valem ainda: concepção do mundo, de Deus do homem e a relação entre elas.. O mundo é,  entendido como uma bênção, lugar de sentido, querido por Deus, respondente às necessidades humanas (Gen 1-2). Este mundo é confiado à liberdade humana que pode viver conforme Deus ou correr atrás das ilusões (Dt 30,15-20). Nesta perspectiva que Israel reconhece sua vocação e liberdade e da infidelidade à Aliança. Este evento de liberdade é a "obra", mishwa que recolhe em si a intensidade cósmica. Por isto antropologia hebraica é ligada à ética. É a ética da pura lei, do mandamento amado mais de Deus, porque Deus se retrair-se e calar, mas a Palavra continua a exigir de ser obedecida. Eis o coração de Israel, a aliança com Deus. Tudo tem referência ao pacto: o mundo bom e belo da criação, a difícil liberdade humana, o destino do povo, eleito no amor e tantas vezes infiel ao amor. Tudo através o cotidiano SHEMÁ se orienta a Ele, que deve ser amado com todo coração, alma e forças (Dt 6,4s).  

Jesus mesmo viveu neste contexto, ele é o novo Adão que obedece onde o primeiro desobedeceu. Jesus é o SIM da Aliança (2-Cor 1,20). Assim o NT encarna o AT no sentido que a aliança realizada em Jesus torna possível a compreensão do Pacto no seu sentido mais verdadeiro. Não é o problema de uma ou de duas alianças, a economia do pacto é única e consiste no desígnio de amor para o seu povo (Rom 16,25). Mas os tempos e formas mudam: Noé, Abraão, Sinai e Gôlgota (conduz a cumprimento as outras). Por isto que ente os dois povos não existe que complementaridade: o NT ilumina. O AT se, deixa iluminar, mas por sua vez é em si mesmo indispensável para compreender a luz do NT. Graças a esta função hermenêutica, à luz do NT alguns textos do AT serão redimensionados, outros mais salientados, e ao mesmo tempo se poderá esquecer a importância da encarnação do Verbo que supera todas as esperas. O AT resta, porém. No seu valor de estrutura, no seu fundamental modo de ver o mundo, o homem, a história na luz da aliança com Deus. Entende-se porque a permanência de Israel não é ameaça e nem empobrecimento da Igreja, mas riqueza por ela e a Igreja não anula Israel, mas oferta permanente da plenitude possível. Ver Nostra Aetate 4.

FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.

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