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A IGREJA E OS GENTIOS

3. A IGREJA E OS GENTIOS

Na unidade do desígnio de Deus a Igreja vive no mundo e para o mundo, chamada a realizar no mundo a missão confiada pelo Pai, por Cristo, no Espírito. Se Deus quer a salvação de todos (1 Tim 2,4-6) e esta salvação passa pelo único mediador, então a necessidade da encarnação do único mediador é o fundamento da necessidade da Igreja. Daí surgem três perguntas: como entender a necessidade do único mediador? Qual é a relação entre o povo de Deus e o mediador Jesus Cristo? Como Cristo e o serviço a ele da Igreja se relacionam com o Reino?

a.   A especificidade do Mediador
A pretensão inaudita de Cristo está na convicção de que nele Deus fez a entrada escatológica na história. Realmente em Cristo Deus reconcilia o mundo (2 Cor 5,19). E a fé cristã tem uma pretensão absoluta análoga porque é convencida que o seu objeto de pregação é de modo absoluto e a medida da história.
De fato a frase como em Jo 14,6,(eu sou a vida....) não é uma pretensão absoluta? Só por meio dele se podem superar os limites da história? Na modernidade surge a questão: como pode ser possível para o cristão que crê no absoluto de Cristo dialogar com o outro de si? Uma resposta poderia ser dada revendo os modelos anteriores e ver como num determinado modelo isto pode ser possível e noutros não. E vamos ver algumas respostas a partir de várias cristologias:

- Cristologia cósmica (caracterizada pela objetividade, pelo mundo): Cristo é a verdade do mundo e da história. Em Cristo é dado tudo o que de bom, de verdadeiro, de belo seja possível ter. Visto que esta totalidade é contida na Escritura, a suficiência crística é identificada com a suficiência escriturística e por Isto os cristãos apelarão á Bíblia para conhecer a totalidade do Cristo. Neste contexto se entende o método alegórico e tipológico da leitura da Bíblia para procurar além da letra. E visto que as escrituras são contidas na realidade do corpo total do Cristo, que é a Igreja, a Igreja, para os padres é o lugar onde se encontra a verdade do Cristo. E das Escrituras. A suficiência crítica, bíblica e eclesial expressa assim a convicção que o universo inteiro é um universo de sinais, cada um dos quais se refere à única profundidade do verdadeiro, oferecida  em Cristo, advento da verdade entre nós.

- Esta visão entra em crise quando se muda ° horizonte e se entra na subjetividade moderna e assim a totalidade é vista a partir do sujeito e assim também ° absoluto cristão será visto de outro jeito: temos a Cristologia antropológica (Karl Rahner): o espírito humano é visto como pergunta aberta ou auto transcendência, enquanto o Cristo é visto como a única resposta radical a esta abertura transcendental. Cristo portanto não é a abstrata verdade do mundo, mas a verdade do homem, o significado da existência humana: ele  é a verdade do alto. Também aqui temos a pretensão da totalidade: Cristo não é tanto o todo do cosmo, mas o todo do homem.

- A partir da crise da modernidade surge o terceiro modelo: Cristologia histórica (caracterizada pela circularidade histórica objeto-sujeito). Aqui Cristo aparece frente à inquieta procura do homem como o lugar em que se cumpre o encontro do êxodo e do advento, do humano andar e o divino vir. Cristo é o sentido da história: não a totalidade do cosmo, não a totalidade do homem, mas o horizonte de sentido.
Mas também neste modelo o círculo da totalidade parece fechar-se: se a ressurreição de Jesus é a início do fim (Pannenberg), a antecipação da hora escatológica o destino do homem e mundo parecem já marcados para sempre. Mas como é possível conciliar tantos dramas, contradições? Esta conciliação é real ou ideal? .

- Nestes três esquemas interpretativos Cristo parece uma parte do todo embora a mais sublime e alta, mas não é mais o desafio, a Palavra na qual irrompe o silêncio do alem. Cada tentativa que procure explicar Jesus Cristo como verdade absoluta em relação a um horizonte totalizante é destinada à falência
+ seja se partimos' da causa de Deus: de fato se Cristo é a realização da totalidade daquilo que nós podemos conhecer e realizar a sua novidade não tem nada de escandaloso, mas pertence ao horizonte deste mundo, o novum cristológico está perdido, não se entende a entrada do totalmente outro na nossa história.
+ da causa do homem; semelhante interpretação da particularidade de Jesus Cristo queima a complexidade da história que não é feita de aberturas transcendentais, de horizontes unitários e totalizantes, mas de uma complexidade ele caminhos não solucionados.
- Mas então senão se quer reduzir o cristianismo em ideologia e numa praxe totalitária e violenta é necessário pensar à particularidade do Cristo a partir de sua fundamental  PARADOXALIDADE:  Cristo e a palavra, mas também o silêncio de Deus, é RE-velatio. Em latim o prefixo RE tem duplo significado de repetição do idêntico e de mudança de estado: revelatio como o grego apokalipsis significa ao mesmo tempo um cair do véu e o cobrir-se. Na tradição grego-latina a revelação é o desvelar-se daquilo que é escondido e o velar-se daquilo que foi revelado.  Assim se entende que na originária tradição cristã a revelatio é o jogo do Deus revelado e escondido, “revelatus in absconditate, absconditus in revelatione". À Revelação corresponde por isto a obediência da fé que é a escuta profunda, oboedientia, ob-audio (up-akon), a escuta daquilo que está ROR DE BAIXO (ob – upo) frente á palavra ouvida. Escutar a palavra de Jesus significa, portanto escutar o que está atrás da palavra e por isto o silêncio da origem, da qual ela provém: o Cristo palavra do Pai apela à profundidade do , escondido. Por isto escuta a palavra somente quem acolhe em silêncio; se abre à revelação só quem aceita o escândalo do revelar-se do escondido e o esconder-se do revelado. As conseqüências disto são importantes:
+ e a primeira de todas é o ESCÂNDALO porque humilitas et ignominia crucis são escândalo porque nelas se faz presente a alteridade pura, o NOVO se diz num fragmento , que mente humana nunca poderia ter imaginado e por isso é perdida a stultitia crucis é perdida a identidade cristã.
+ Ligada a esta paradoxalidade está a absoluta LIBERDADE: a liberdade é a medida do escândalo, o risco  é a força mesma e que Jesus faz presente; quando o Filho retornará existirá ainda a fé? )Lc 18,8) Isto significa que frente a ele a possibilidade da negação é sempre aberta e exige por isto o absoluto respeito. Cristo não pode ser imposto a ninguém, mas. Só proposto. Ele é o apelo radical à audácia da liberdade porque a lei fundamental da revelatio é aquele escondimento que apela à obediência da fé e exige por isto a livre escuta na profundidade do silêncio, originário e fontal, revelado na palavra.
+ Enfim resta a Decisão frente à boa notícia. Não se trata de uma escolha intimista, puramente subjetiva (entre a alma e Deus), mas tomada de consciência livre, frente a um dado exterior ao sujeito que lhe é apresentado no vivo de uma experiência comunitária (Rom 10,14s). Portanto a decisão é sempre fundada num extra nós. A fé nasce da escuta. E aqui que a reflexão do único mediador apela' necessariamente ao papel da comunidade que o anuncia e o torna presente na história.

b. Extra eeelesiam nulla salus?
A necessidade da Igreja é fundamentada na necessidade de um mediador. Se vê, portanto como os modelos cristológicos influenciam os modelos ec1esiológicos.
- eclesiologia cósmica: Construída sobre a idéia da universal necessidade da Igreja pela salvação, mas onde o universo é identificado com o império e que por isto todos querendo podiam ser cristãos e neste contexto temos o Extra ecc1esiam nulla salus.
- mas com a mudança de horizonte também a eclesiologia muda e assume uma acentuação antropológica: se Cristo, é a resposta ao homem, a Igreja, forma comunitária do encontro com Ele, se encontrará em cada espírito aberto ao Mistério. Neste sentido o passo a um inclusivismo cristocêntrico e por isto a um cristianismo anônimo é breve. O principio patrístico do Extra ecclesia nulla salus é reinterpretado no novo horizonte hermenêutico que transfere no interior do sujeito o que os padres punham como ordem e razão do cosmo.
- A exigência de um maior respeito da concretude histórica se amadurece uma eclesiologia no horizonte da historicidade Assim se acentua o nascer da Igreja a partir de baixo de um lado e do outro se acentua a ação do Espírito na história e não somente na Igreja. De um Cristo pensado contra as religiões (modelo exclusivista) se passa ao reconhecimento do Cristo nas religiões e seus valores' (modelo inclusivo) ou à afirmação de um Cristo acima das religiões que mede o valor intrínseco de todas as religiões (modelo normativo) para terminar num soteriocêntrismo de um Cristo coexistente com todas as religiões do mesmo modo onde a separação do VERBO de suas possíveis expressões históricas consente de falar de um Cristo ideal, que se torna presente nas várias religiões, entendidas como caminhos de salvação autônomos do Cristo histórico (modelo relativista).  Percebe-se que em muitas perspectivas esvanece o mesmo Cristo e por isto contra um historicismo idealista se deve anunciar a unicidade da encarnação do verbo e por isto a historicidade de sua mediação destinada a alcançar todo homem e cada homem em cada lugar e tempo.
- Analogamente à paradoxalidade vista, também devemos dizer que deve ser aplicada à eclesiologia com o modelo sacramental assumido pelo VAT II (LG 48). Assim no mistério universal de salvação a Igreja mantém um papel necessário e a\o mesmo tempo totalmente relativo; dependendo do único necessário que é o mistério de Cristo no desígnio do Pai, a Igreja é necessária enquanto reveste o papel de sinal profético do dom de Deus plenamente oferecido nela e de realização incoativa da salvação querida para todos no desígnio do Pai. Por isto a salvação individual pode prescindir da Igreja visto que a salvação depende de Deus, mas doutro lado passa pela Igreja visto que sem ela não se saberia o significado pleno de salvação, aquilo que Deus pensa para a humanidade. Por isto a mesma Igreja é paradoxo que vela e esconde: por isto ela apela àquele da qual vem e para onde tende e não pode nunca assumir de ser absoluto que se substitui à misteriosa atração de Deus e à liberdade de seus caminhos. Embora não sendo tudo é pata todos. Este paradoxo eclesial faz lembrar o Reino.

c. A Igreja e o Reino de Deus
A Igreja não é o Reino em forma plena, mas é o início na terra, o fermento que cresce (LG 3). O concílio parece Implicar uma identidade dialética entre Igreja e Reino: de um lado a Igreja é Reino, embora em mistério e em forma de semente, de início e de outro tende ao Reino perfeito. Está em tensão do já e o ainda não (LG 5). Assim se superou a simples identidade comum à Eclesiologia pré-conciliar. Mas então como entender os dois? Não se pode simplesmente dizer que a Igreja pertença à história e o Reino ao fim da história. Na história embora distintos são inseparáveis. Já na pregação de Jesus parece bem distinto, ele anuncia o Reino e por isto a Igreja está ao serviço do Reino. Por isto se pode falar da Igreja como sacramento do Reino, isto é, ela é o sinal vivo e visível da realidade já presente embora não totalmente presente no Reino inaugurado por Cristo. E neste sentido vai evidenciado que o Reino transcende a Igreja como a realidade última comunicada pelo sacramento transcende o sinal. Existe isto é, uma ação do Espírito e uma presença de valores evangélicos além dos limites visíveis da Igreja que podem ser considerados momentos do reino iniciado, que deve plenamente vir. O Reino se verifica na história do mundo (e não só na Igreja) onde se atua na graça e na obediência para com Deus. Por isto o Reino de deus no mundo, que, porém não pode ser identificada com nenhuma objetividade mundana, a Igreja é uma parte... E, sobretudo o particular sacramento fundamental, ou seja, a manifestação (sinal) histórico-salvífico-escatológica e eficaz do fato que na unidade, na realidade, na fraternidade... Do mundo o Reino de Deus está por vir, assim que aqui, como em cada sacramento, sinal e realidade designada não vão nunca separados, mas nem identificados. Também na escatologia não se pode pensar a um desaparecimento da Igreja para dar lugar ao Reino, nem uma permanência junto às outras formas que o espírito do Reino pode TR animado na história, mas a realização daquele “shalom” da promessa, na qual todos os construtores do Reino, desde Abel até o último justo, reconhecerão a própria Pátria finalmente alcançada.
A transcendência do Reino frente à Igreja vem assim identificar-se coma Obra do Espírito que sopra onde quer (Jo 3,8). Assim se entende que uma eclesiologia cristocêntrica deve ser ampliada numa visão trinitária... Se o Reino é presente também no Outro, além dos limites da Igreja, este tem uma dignidade e valor que o cristão deve aceitar e afirmar e defender próprio em obediência à sua fé. Assim enquanto a Igreja é na história o sacramento universal do Reino, as outras tradições religiosas exercem certa mediação do Reino em relação aos seus membros, sem dúvida diferente e menos completa, mas não por isso menos eficaz e real. Por isto Cristo pode ser misteriosamente encontrado no escândalo, na liberdade e na audácia de uma decisão que abra o coração à ação divina ativa também nos ensinamentos e nos meios de salvação oferecidos às outras religiões, mas que não devem contradizer o mandamento fundamental do Evangelho (Nostra aetate 2).
Mas este profundo respeito não afastará a Igreja de viver a novidade de sua fé de modo totalizante porque anuncia quem é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). A missão cristã não quer exportar uma visão tranqüilizadora do todo, mas nos transmitir por contágio e transparência, no escândalo e na liberdade da fé, a experiência do encontro vivo e transformador com o Senhor Jesus. Assim também hoje deve ser anunciada a mensagem evangélica e endereçar-se a cada homem que queira abrir-se a ela em liberdade. Neste estilo de diálogo e proclamação, de respeito do outro e ao mesmo tempo de dom de si, se joga a presença dos cristãos na unidade do desígnio salvífico universal do Pai. Isto eles o podem dar ao mundo como Povo de Deus peregrino no tempo, na atenção a toda a complexidade dos caminhos através dos quais os homens procuram o sentido último, e por isto religioso, ao cansaço do existir (Nostra aetate 1).

FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.

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